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Cultura

Cinema: Cinquenta Tons de Cinza

3 min leitura

Vamos tirar esses dois elefantes enormes da sala antes de tudo. Não, não li o livro de E. L. James que originou o filme Cinquenta Tons de Cinza. E sim, sou homem heterossexual e gostei relativamente da produção dirigida por Sam Taylor-Johnson – e só faço essa afirmação por saber que, incompreensivelmente isso se tornou importante ao emitir opinião sobre a obra.

Os diálogos do roteiro de Kelly Marcel são constrangedoramente sofríveis, de doer mais do que uma sessão na salinha do prazer do protagonista – o que ao que tudo indica é uma herança de suas raízes, já que muitos estão apontando a fidelidade da adaptação -, mas o casal protagonista e o enredo, corajoso por ser destinado para um público mais amplo do que uma produção com seus temas normalmente seria, garantem o aproveitamento positivo da projeção.

Seria hipocrisia fingir que parte do sucesso do best seller literário não se origina da liberdade com que a obra trata o sexo e o sadomasoquismo de seus protagonistas, sendo assim, apesar de mais puritano do que poderia ser, é um alívio perceber que essa adaptação não poupa o espectador desse ponto tão importante para o universo de seus personagens. Porém, se isso se torna fascinante ao vermos que a relação de dominador e dominada entre o rico e intimidante Christina Grey (Jamie Dornan) e a recatada Anastasia Steele (Dakota Johnson) é retratada de maneira natural e fonte de prazer para ambos apesar do medo de se entregar inicialmente exibido pela garota, é uma pena perceber como no final o filme se entrega ao impulso de julgar o personagem de Dornan.

Por que enquanto tratava a relação de Grey e Ana como algo ao mesmo tempo “louco” para a plateia – e aí a escolha por uma “Crazy in Love” em nova roupagem para a primeira sessão de dominação entre os personagens resulta na melhor cena da obra – e natural para seus personagens, Cinquenta Tons de Cinza funciona bem, mesmo que aqui e ali tente emular (sem sucesso) as cenas típicas de uma comédia romântica boy meets girl, com o tropeção da mocinha apenas para o mocinho segurá-la e tudo mais, resultando em um enfraquecimento dos personagens principais, principalmente de Grey, que do homem seguro de si e de seus desejos a ponto de tornar a inserção de um contrato sexual em uma conversa algo natural, se torna um exemplo clássico de um garoto inseguro em suas primeiras aventuras sexuais, incluindo ceninhas bobas de possessividade e stalkeadas na companheira, o que levando-se em conta a pose de fodão ostentada pelo personagem, é meio ridículo.

E se os atores parecem se esforçar tanto a ponto de tornar esse esforço algo ruim ao filme – Dornan parece parir um filho sempre que tenta passar um ar de misterioso, Johnson idem quando quer soar inocente e virginal -, é preciso reconhecer que quando o sexo entra na mistura eles finalmente conseguem uma química interessante e que torna difícil desviar os olhos do casal. É interessante notar também como ao contrário do que muitos criticam o filme, não, ele não é misógino – ao menos não até aqui -, já que 1) Grey já foi dominado por uma mulher e agora é dominador de mulheres que concedem a ele essa permissão, 2) Anastasia claramente sente prazer em ser dominada durante o sexo com ele, 3) a garota transforma a dominância física de Grey em dominação psicológica a seu favor em diversas ocasiões e 4) quando o sadomasoquismo se torna agressão gratuita ela deixa o personagem de Dornan (apesar de sabermos que nas continuações ela vai voltar por que ele é um homem perturbado pelos problemas de infância).

Interessante ao apostar em simbolismos (um lápis com o nome de Grey na boca de Ana, a chuva que deixa a personagem molhada depois da primeira vez que vê o amado) que antecipam uma tensão sexual que custa a engrenar – lá se vai meio filme até os personagens terem a primeira transa, quando finalmente a química acontece – e contando com uma fotografia (uma cena no apartamento de Grey, à noite e apenas com a iluminação da rua é uma beleza) e design de produção (a sala do prazer de Grey revela muito sobre sua personalidade) bem trabalhados, Cinquenta Tons de Cinza, infelizmente, acaba justamente quando os personagens eram sabotados e se tornavam desinteressantes, o que acaba custando parte da expectativa por uma continuação que a coisa despertava até ali.

É o caso clássico do coito interrompido. Que o futuro Cinquenta Tons mais Escuros consiga achar o ponto G.

Dados técnicos:

Nome: Fifty Shades of Grey
Ano: 2015
Direção: Sam Taylor-Johnson
Elenco: Jamie Dornan, Dakota Johnson, Eloise Mumford, Marcia Gay Harden, Luke Grimes

Cinema mais próximo do Iguatu/CE

Orient Cinemas Cariri Shopping
Avenida Padre Cícero 2555 – Santa Tereza, 63041-140 Juazeiro do Norte
Sessões Dubladas: 13h, 15h40 e 18h20

 

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